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Desfile da Mangueira - Foto: Fabio Tito/G1 |
Graça
e Paz, estamos vivendo o feriado do carnaval, feriado esse, no qual
tradicionalmente, a Igreja utilizava para realizar retiros, com o
intuito de “fugir” da folia e ficar reservadamente buscando a
presença de Deus, afinal o carnaval é para os evangélicos, uma
festa da carne. Mas o carnaval 2020 tem sido marcado por uma presença
massiva dos evangélicos, de formas distintas, enquanto uns usam a
“folia” para evangelizar, outros usam as redes sociais para se
expressarem acerca dos desfiles das escolas de samba, dessa vez, o
alvo tem sido a escola de samba carioca Estação Primeira de
Mangueira.
A
Mangueira que desfilou no último domingo (23/02), trouxe o tema da
tolerância segundo seus partícipes, através da figura de Jesus
Cristo, retratando o próprio Cristo como uma mulher negra, um jovem
apanhando da polícia e também, crucificado e ressuscitado como um
negro. Claro que a reação dos evangélicos, em sua maioria foi de
condenação pela forma como Cristo fora retratado. Comentários do
tipo: “De Deus não se zomba...”, “Isso foi crime de vilipêndio
contra nossa fé!”, “Absurdo!”, foram os mais vistos em sites
de notícias gospel e em perfis de evangélicos no Facebook.
Mas
o que esses comentários realmente revelam, é um total
desconhecimento histórico e da realidade social brasileira.
Claramente, o desfile da Mangueira teve como objetivo o protesto ou a
crítica social, mas a maioria dos evangélicos ao que me parece, não
conseguem diferenciar uma critica social de um claro desrespeito à
nossa fé. Como cristão, não me senti ofendido, pelo contrário,
compriendi a crítica feita pela escola e me envergonhei não só das
reações ao desfile, como também, pelo que tenho visto e ouvido
dentro de muitas igrejas. A meu ver, maior desrespeito ao sacríficio
da cruz fazem aqueles que usam a fé para enriquecimento próprio
através da teologia da prosperidade, pessoas que usam a “fé” em
Cristo para subirem degraus rumo ao poder político, que usam igrejas
como palanque e as ovelhas de cristo como curral eleitoral. Antes de
apontar aqueles que não conhecem o evangelho, temos que tirar a
trave do nosso olho primeiro, tomar cuidado com o farisaísmo
existente em nosso meio. Devemos
lembrar também que Cristo andava com pessoas socialmente e
religiosamente excluídas, como publicanos, prostitutas, leprosos,
sim Cristo andava com elas e os levava ao arrependimento, a mudar de
vida, mas antes disso Ele as incluía sem distinção.
Acerca
do desconhecimento histórico, fica claro, uma vez que boa parte das
críticas se deram ao mostrar Jesus como negro e ao criticarem Jesus
Crucificado como um bandido ferido a balas, sobre isso, temos que
desconstruir a imagem que temos de Cristo como branco de olhos
claros, isso foi uma construção do catolicismo europeu, Jesus viveu
em uma região árida, é mais provável que Jesus fosse negro, do
que branco, o que não muda em nada quem Ele é e o que Ele fez por
nós.
Ademais,
Jesus foi crucificado, a crucificação era utilizada para punir
bandidos, era a pior forma de punição utilizada pelos romanos, e
por isso, Ele foi crucificado com dois ladrões, Isaías 53: 12 afirma
que “...foi contado entre os transgressores...”, compreendo claro
que Jesus não foi um bandido, Ele é Santo, a própria bíblia
afirma que nEle não foi achada nenhuma transgressão, mas para a
sociedade, para os líderes religiosos da época, a mensagem do
evangelho e o próprio Jesus foram considerados perigosos, por isso
lutaram tanto para que Ele fosse crucificado.
Encerro
esse texto, parafraseando um colega de trabalho: O Rio de Janeiro é
o Estado brasileiro com o maior número de evangélicos, e mesmo
assim, continua reduto do tráfico de drogas, milícia e de
políticos corruptos, o traficante é evangélico, o miliciano é
evangélico, o político corrupto é evangélico, que evangelho tem
sido pregado no Brasil?
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