quarta-feira, 31 de outubro de 2018

31 de Outubro dia da Reforma Protestante. Temos o que comemorar?



Há exatos 501 anos o então Monge agostiniano Martinho Lutero, pregou na porta da catedral de Wittemberg as suas 95 teses, este fato é considerado o marco no movimento religioso que chamamos de Reforma Protestante, que dividiu o cristianismo ocidental entre Católicos e Protestantes e trouxe uma nova forma de leitura e interpretação bíblica, assim como uma nova forma de nos relacionarmos com Deus.

Passado tanto tempo desse fato, muita coisa mudou no mundo, inclusive dentro deste segmento religioso. Numerosas Igrejas abriram suas portas, e outras formas de interpretar e se relacionar com Deus surgiram, dentre essas, podemos destacar o grupo pentecostal e os neopentecostais, segmentos que no caso do Brasil, tem o maior número de adeptos dentre os protestantes.

Pensando no contexto em que atualmente se encontra a Igreja Brasileira, particularmente, não vejo motivos para comemorar, mas sim necessidade de reflexão e a partir da mesma, arrependimento. Arrependimento e reflexão acerca de que? Primeiramente, vejo a necessidade de arrependimento àqueles que propagam e vivem suas vidas religiosas com base na famigerada teologia da prosperidade, a mesma, nos leva a um relacionamento com Deus e com o próximo baseado naquilo que se consegue ganhar a partir dessa relação, Deus deixa de ser o Rei e Senhor e passa a ser servo, obrigado pelo (f)ato do crente dizimar. Além disso, nas Igrejas que práticam sua “fé” dessa forma, costumam enfocar o que Deus pode fazer, e não o que Ele já fez, a salvação se torna uma consequência da fidelidade ligada ao dízimo e não mais o foco central da pregação.

Essa teologia, além de tudo falado anteriormente, ainda trouxe de volta algo que o próprio Lutero condenou, a venda de indulgências. Podemos acompanhar pela televisão a venda descarada de produtos como algo sacro, como algo necessário para a salvação, o dízimo que no antigo testamento era uma forma de agradecimento a Deus e também uma forma de combater a injustiça social, se torna uma moeda de troca inclusive para a salvação.

E o que falar da relação estabelecida entre a política e a Igreja? No Brasil, temos a chamada bancada evangélica, e cada vez mais os evangélicos têm enveredado pela política, o que não deveria ser algo necessariamente negativo, afinal, vivemos em uma democracia, e ocupando lugares de poder, os mesmos poderiam tentar tornar a sociedade mais justa e igualitária. Mas o que de fato vemos, é tais parlamentares envolvidos em escandalos de corrupção (Eduardo Cunha que o diga), fora a postura adotada por praticamente todos os evangélicos nessas eleições presidenciais, não critico suas escolhas, mas sim a postura, na qual o que vi e senti, foi segregação, falta de amor e tristeza, pela postura adotada por pastores e membros de Igrejas. Aqui em meu entendimento também cabem reflexão e arrependimento.

Ao olharmos a postura do público evangélico, num contexto mais amplo, a mesma, pode ser facilmente comparada à dos fariseus dos tempos de Jesus, a religião tem ficado à frente do Evangelho de Jesus Cristo, a postura de Jesus foi de condenar pecados, mas principalmente os pecados dos religiosos, com aqueles pecadores que eram desprezados socialmente, Jesus mostrou mais misericórdia, sempre claro, incentivando a que deixassem de pecar, joão Batista por sua vez, foi muito mais incisivo até por que não dizer, rude em sua forma de pregar, sempre também falando da justiça, anunciando a vinda de Cristo e condenando a hipocrisia farisaica.

Recentemente, ouvi uma pregação que me fez muito bem, o Pastor Dino Guimarães (Igreja de Cristo – Salinas), refletiu acerca de algo muito importante, que a Igreja hoje tem dado mais ênfase no pecado, do que mesmo na salvação, e isso, é algo com que devemos nos preocupar, já pararam pra pensar porque tantas pessoas se afastam ou não se aproximam de nossas igrejas? Creio que já passou da hora da Igreja deixar de apontar com o dedo e estender as mãos, não é relativizar o pecado, mas sim focar em Jesus e em sua obra redentora, afinal é o Espirito quem convence o pecador do pecado, e ademais, o apóstolo Paulo fala que essa era a função da lei, ensinar, mostrar que opovo praticava o pecado, e se vivemos, no tempo da Graça, devemos deixar a Graça de Deus nos alcançar e por consequência, nos arrependermos de nossos pecados.

Como dito anteriormente, não vejo motivos para celebrar, creio que é hora de reflexão e arrependimento, arrependimento de sermos uma Igreja que muitas vezes cumpre apenas rituais, mas que não prática a justiça (inclusive a social), uma Igreja cheia de adornos, com muitos templos, enquanto o templo do Espírito morre de frio, fome, solidão,sede, uma Igreja que ao invés de buscar a Deus por interesses pessoais, enxergue Deus no outro, inclusive no outro que não crê como eu creio, uma Igreja que dependa exclusivamente de seu noivo, ao invés do poder terreno, uma Igreja que prátique a religião que agrada a Deus, cuidando da viúva, dos órfãos e dos pobres, uma Igreja como Jesus.

Como disse João Batista: “Deem fruto que mostre arrependimento” (Mt 3:8)





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