Há
exatos 501 anos o então Monge agostiniano Martinho Lutero, pregou na
porta da catedral de Wittemberg as suas 95 teses, este fato é
considerado o marco no movimento religioso que chamamos de Reforma
Protestante, que dividiu o cristianismo ocidental entre Católicos e
Protestantes e trouxe uma nova forma de leitura e interpretação
bíblica, assim como uma nova forma de nos relacionarmos com Deus.
Passado tanto tempo desse fato, muita coisa mudou no mundo, inclusive dentro
deste segmento religioso. Numerosas Igrejas abriram suas portas, e
outras formas de interpretar e se relacionar com Deus surgiram, dentre
essas, podemos destacar o grupo pentecostal e os neopentecostais,
segmentos que no caso do Brasil, tem o maior número de adeptos
dentre os protestantes.
Pensando
no contexto em que atualmente se encontra a Igreja Brasileira,
particularmente, não vejo motivos para comemorar, mas sim
necessidade de reflexão e a partir da mesma, arrependimento.
Arrependimento e reflexão acerca de que? Primeiramente, vejo a
necessidade de arrependimento àqueles que propagam e vivem suas
vidas religiosas com base na famigerada teologia da prosperidade, a
mesma, nos leva a um relacionamento com Deus e com o próximo baseado
naquilo que se consegue ganhar a partir dessa relação, Deus deixa
de ser o Rei e Senhor e passa a ser servo, obrigado pelo (f)ato do
crente dizimar. Além disso, nas Igrejas que práticam sua “fé”
dessa forma, costumam enfocar o que Deus pode fazer, e não o que Ele
já fez, a salvação se torna uma consequência da fidelidade ligada
ao dízimo e não mais o foco central da pregação.
Essa
teologia, além de tudo falado anteriormente, ainda trouxe de volta
algo que o próprio Lutero condenou, a venda de indulgências.
Podemos acompanhar pela televisão a venda descarada de produtos como
algo sacro, como algo necessário para a salvação, o dízimo que no
antigo testamento era uma forma de agradecimento a Deus e também uma
forma de combater a injustiça social, se torna uma moeda de troca
inclusive para a salvação.
E
o que falar da relação estabelecida entre a política e a Igreja?
No Brasil, temos a chamada bancada evangélica, e cada vez mais os
evangélicos têm enveredado pela política, o que não deveria ser
algo necessariamente negativo, afinal, vivemos em uma democracia, e
ocupando lugares de poder, os mesmos poderiam tentar tornar a
sociedade mais justa e igualitária. Mas o que de fato vemos, é tais
parlamentares envolvidos em escandalos de corrupção (Eduardo Cunha
que o diga), fora a postura adotada por praticamente todos os
evangélicos nessas eleições presidenciais, não critico suas
escolhas, mas sim a postura, na qual o que vi e senti, foi
segregação, falta de amor e tristeza, pela postura adotada por
pastores e membros de Igrejas. Aqui em meu entendimento também cabem
reflexão e arrependimento.
Ao
olharmos a postura do público evangélico, num contexto mais amplo,
a mesma, pode ser facilmente comparada à dos fariseus dos tempos de
Jesus, a religião tem ficado à frente do Evangelho de Jesus Cristo,
a postura de Jesus foi de condenar pecados, mas principalmente os
pecados dos religiosos, com aqueles pecadores que eram desprezados
socialmente, Jesus mostrou mais misericórdia, sempre claro,
incentivando a que deixassem de pecar, joão Batista por sua vez, foi
muito mais incisivo até por que não dizer, rude em sua forma de
pregar, sempre também falando da justiça, anunciando a vinda de
Cristo e condenando a hipocrisia farisaica.
Recentemente,
ouvi uma pregação que me fez muito bem, o Pastor Dino Guimarães
(Igreja de Cristo – Salinas), refletiu acerca de algo muito
importante, que a Igreja hoje tem dado mais ênfase no pecado, do que
mesmo na salvação, e isso, é algo com que devemos nos preocupar,
já pararam pra pensar porque tantas pessoas se afastam ou não se
aproximam de nossas igrejas? Creio que já passou da hora da Igreja
deixar de apontar com o dedo e estender as mãos, não é relativizar
o pecado, mas sim focar em Jesus e em sua obra redentora, afinal é o
Espirito quem convence o pecador do pecado, e ademais, o apóstolo
Paulo fala que essa era a função da lei, ensinar, mostrar que opovo
praticava o pecado, e se vivemos, no tempo da Graça, devemos deixar
a Graça de Deus nos alcançar e por consequência, nos arrependermos
de nossos pecados.
Como
dito anteriormente, não vejo motivos para celebrar, creio que é
hora de reflexão e arrependimento, arrependimento de sermos uma
Igreja que muitas vezes cumpre apenas rituais, mas que não prática
a justiça (inclusive a social), uma Igreja cheia de adornos, com
muitos templos, enquanto o templo do Espírito morre de frio, fome,
solidão,sede, uma Igreja que ao invés de buscar a Deus por
interesses pessoais, enxergue Deus no outro, inclusive no outro que
não crê como eu creio, uma Igreja que dependa exclusivamente de
seu noivo, ao invés do poder terreno, uma Igreja que prátique a
religião que agrada a Deus, cuidando da viúva, dos órfãos e dos
pobres, uma Igreja como Jesus.
Como
disse João Batista: “Deem fruto que mostre arrependimento” (Mt
3:8)
0 comentários:
Postar um comentário