Pesquisa mostra que aumentou o número de pessoas que leem a Bíblia apenas para achar "bênçãos"
Diferentes teólogos apontam para a ideia bastante comum no chamado
“Evangelho da Prosperidade” de que muitas promessas para os pobres e os
doentes acabam não se cumprindo, o que gera frustração nos ouvintes.
Uma
pesquisa publicada este mês nos EUA concluiu que os fiéis com saúde
física precária e baixo nível socioeconômico cada vez mais estão lendo a
Bíblia apenas para alcançar “saúde e riqueza”, embora isso muitas vezes
acabe fazendo com que se sintam pior.
“À primeira vista, pode parecer óbvio que pessoas com maiores
privações em algum aspecto da vida têm maior probabilidade de recorrer
às Escrituras para buscar orientação”, destacam os sociólogos Reed
DeAngelis, John Bartowski e Xiahe Xu. Eles publicaram os resultados de
seu levantamento na revista científica Journal for the Scientific Study of Religion.
Com
base nas respostas de 1.500 entrevistados, os pesquisadores descobriram
que as pessoas com problemas de saúde eram “28% mais propensas” a
procurar promessas sobre saúde nas Escrituras, enquanto aquelas que
passam por privações econômicas tinham 62,5% mais probabilidade de
buscar “dicar” sobre como obter riqueza. Eles demonstravam que não
recorriam à Bíblia por outras razões, como devoção pessoal ou estudo
individual.
“Juntas, nossas análises indicam que certos segmentos
desfavorecidos da população cada vez mais estão olhando para as
Escrituras estritamente como uma busca personalizada para a autoajuda e à
exclusão de outras formas de estudo religioso”, relataram os
pesquisadores em seu estudo.
De acordo com a análise deles, cerca
de 20% das pessoas que declaram ler a Bíblia frequentemente recorreram
às Escrituras para ‘revelações’ sobre saúde e 30% para saber o que ela
diz sobre a riqueza. Esse é um resultado direto dos sermões que ouvem
sobre os temas nas igrejas ou na televisão.
Depressão
Embora
seja uma questão complexa, que depende de diferentes contextos, os
pesquisadores descobriram que esse tipo de abordagem das Escrituras pode
fazer as pessoas se sentirem frustradas e até deprimidas.
“Nossas
análises sugerem que a leitura das Escrituras focadas apenas em saúde e
cura exacerbou os efeitos adversos, gerando sintomas depressivos. Nossa
conclusão é consistente com a literatura já existente sobre o ‘lado
negro’ desse enfrentamento espiritual”, escreveram.
As recentes
descobertas sobre esses leitores da Bíblia focados em “saúde e riqueza”
corroboram com a teoria hermenêutica que aponta para conceitos
pré-estabelecidos sobre vivências que afetam a interpretação das
Escrituras. Neste caso, as pessoas que enfrentam problemas de saúde ou
dificuldades financeiras leem trechos bíblicos buscando respostas com
expectativas e suposições específicas, que não se sustentam
teologicamente.
Os autores do estudo concluem: “As ideias
preconcebidas, comumente enraizadas em experiências pessoais, são
necessárias para que se inicie o processo de compreensão mais amplo”.
Uma pesquisa
do instituto LifeWay Research, de Nashville (EUA) divulgada em agosto,
indica que 69% dos evangélicos acredita que Deus deseja prosperidade
financeira dos fiéis.
Ao mesmo tempo, 16% dizem que “é preciso
fazer algo para Deus se quiser receber bênçãos materiais em troca” e 38%
aprenderam em sua congregação que “seu eu doar mais dinheiro para a
Igreja, Deus irá me recompensar”.
Conforme ressalta Scott McConnell,
diretor executivo da LifeWay, “um grupo significativo de igrejas ensina
que as doações desencadeiam uma resposta financeira de Deus”. E isso
influencia a maneira como as pessoas veem seu relacionamento com Deus.
O
estudioso acredita que ainda há uma diferença entre o púlpito e os
bancos. “Vários líderes evangélicos influentes já condenaram a teologia
da prosperidade”, lembra, “mas a maioria dos crentes ainda pensa que
existe essa relação direta entre dar dinheiro e receber bênçãos”.
Fonte: Gospel Prime
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