Caso do papiro falsificado mostra como a mídia gosta de questionar os relatos bíblicos
por Jarbas Aragão
Insinuações que Jesus Cristo teve uma vida diferente do que está relatado no Novo Testamento existem desde os primeiros séculos, em trechos dos chamados “apócrifos”, livros não reconhecidos pela igreja como inspirados.
Contudo, em 2012, a professora de História Eclesiástica Karen King, da Universidade de Harvard,mostrou ao mundo um pedaço de papiro, medindo apenas 4 por 8 cm.
Tido como uma grande revelação, o texto em copta antigo, possui frases como: “E Jesus disse: ‘minha mulher’ e ‘ela poderá ser minha discípula’”.
Ela afirmou que comprou de um colecionador privado. Buscou apoio de especialistas, tradutores, arqueólogos e historiadores. Logo ganhou o apelido de “Evangelho da esposa de Jesus”. Na ocasião, Karen foi criticada pelo Vaticano, que desmentiu a autenticidade do papiro no jornal Osservatore Romano. Ainda assim, grande parte da mídia continuou tratando a questão como verídica.
Após muitas polêmicas, a professora King admitiu nesta sexta-feira (17) que trata-se de uma falsificação. Curiosamente, ela só admitiu isso após a publicação de uma investigação profunda do assunto, realizada pela revista The Atlantic.
O jornalista Ariel Sabar, que assina o artigo, conseguiu identificar que o misterioso “colecionador” que entregou à historiadora o manuscrito chama-se Walter Fritz. Este norte-americano possui um passado nebuloso, tendo estudo egiptologia, atuado no ramo de peças de automóveis e produzido pornografia.
Caiu por terra toda a argumentação dos defensores dessa “descoberta” nos últimos quatro anos. Embora na carta que escreveu à The Atlantic, ele assuma ter sido o proprietário do manuscrito garante: “Nem eu, nem qualquer outra pessoa, forjou, alterou ou manipulou o fragmento e/ou sua inscrição”.
Reitera que ele o comprou de Hans-Ulrich Laukamp, em 1999. Os dois tinham ligações comerciais. A relíquia falsificada fora adquirida originalmente por Laukamp em 1963, em Postdam, na antiga Alemanha Oriental.
Fritz explica que não sabia o valor daquela peça até conhecer um negociante de artes, que lhe ofereceu cerca de US$ 50 mil. Curioso em saber o que fazia aquele pedacinho antigo de papiro ser tão valioso, procurou a professora King. Laukamp morreu em 2002 e ao que tudo indica sabia muito pouco sobre a origem do artefato.
Embora Fritz afirme que sempre preferiu o anonimato, a revista The Atlantic conseguiu provar que ele registrara em seu nome o site www.gospelofjesuswife.com pretendendo lucrar com isso. Atualmente, a página está fora do ar.
Os indícios de falsificação apontados por acadêmicos quando o material veio à tona, em 2012, apontavam para fortes indícios que era uma cópia malfeita de parte do texto do apócrifo “Evangelho de Tomé”. Estudiosos como Mike Grondin e Francis Watson escreveram longamente sobre o assunto.
A professora King apoiava-se em exames de datação por carbono 14, que apontavam que o tecido fora produzido entre os anos 290 e 400 a.C. Também dizia que a análise de pessoas de sua confiança atestavam a sua veracidade.
Vários textos acadêmicos foram escritos, na maioria críticos à descoberta. Mesmo assim, o prestigiado museu Smithstonian produziu um documentário sobre a “valiosa” descoberta.
Talvez o maior valor desta situação – que se mostra no mínimo constrangedora agora – seja o fato que mais uma vez existe uma pré-disposição da mídia em dar amplo espaço para qualquer coisa que, mesmo remotamente, sirva para questionar a existência de Jesus ou os relatos bíblicos sobre ele. Com informações de Daily Mail
Fonte: Gospel Prime
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