quarta-feira, 3 de agosto de 2016

O perdão e a cura das feridas da alma

Perdoar é muito difícil, até mesmo para os cristãos que têm como exemplo Jesus Cristo, que morreu para nos perdoar. É preciso aprender perdoar, mas como aprendemos essa difícil lição? Neste artigo trataremos do perdão como uma dádiva divina para todas as pessoas, do poder curador do perdão, também sobre a diferença entre culpa e vergonha, e dos níveis de perdão. Esperamos que a leitura reflexiva deste texto, sob ação do Espírito Santo, faça bem à sua alma.
Como Aprender a Perdoar?
Primeiro é preciso que você considere como você foi perdoado: “Sejam bondosos e compassivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo” (Efésios 4.32).
Quando amamos alguém de verdade é preciso aceitar a nossa própria vulnerabilidade, tirar a máscara superficial e deixar que o outro nos veja como realmente somos. Por que ferimos a quem amamos? Quando somos feridos, somos capazes de dizer e fazer coisas prejudiciais de forma violenta com as pessoas mais próximas – é nesse momento que magoamos aqueles a quem mais amamos.
Quando somos feridos, magoados, queremos “acertar as contas”, “pagar na mesma moeda”. Pensamos que fazendo isso nossa dor pode diminuir, que nos sentiremos um pouco melhor – isso não é uma verdade: “Que ninguém retribua o mal com o mal; procurai sempreo bem uns dos outros e de todos” (1Tessalonicenses 5.15).
Em certa ocasião, um soldado americano levado para guerra, e que mantinha viva a esperança de reencontrar sua noiva (que prometeta lhe esperar), recebe uma carta da então noiva, pedindo sua foto preferida que ofereceu ao noivo por ocasião de sua despedida. Junto ao pedido da devolução da foto, estava também a informação de que tal foto seria usada para o convite de casamento (com outro rapaz), que aconteceria em breve. Ferido e magoado, o soldado então conta com os amigos do alojamento para se vingar. Recolheram todas as fotos de mulheres (irmãs, namoradas, noivas) de todos os soldados, colocaram em uma caixa e o soldado a enviou para a ex-noiva com a seguinte frase: “Procure a sua, não me lembro qual é”.
Essa pequena ilustração reforça como, a princípio, o sabor da vingança parece agradável, mas no fundo a dor continua lá. Geralmente quando erram, as pessoas costumam ter dois tipos de sentimento: a culpa e a vergonha; muitas vezes tratadas como sendo a mesma coisa. Há, porém, uma diferença sutil entre elas.
A culpa é o sentimento que surge quando nos comportamos mal, e está relacionada com o que fazemos. Ela pode desempenhar um papel importante. Deus faz com que alguns de nossos comportamentos nos causem desconforto para que possamos rever e reparar danos. É um indicador de que precisamos pedir desculpas e reatar o relacionamento. Ficar remoendo as culpas não é construtivo. Culpa foi o que Davi sentiu. Suas transgressões só foram perdoadas, e seus pecados só foram apagados, depois do incômodo da culpa. É o que ele expressa no Salmo 32.
Vergonha é a sensação que surge quando não correspondemos ao que pensamos que deveríamos ser. Está ligada ao que somos. Ela causa tristeza. Vergonha foi o que Pedro sentiu ao cair em si depois de negar Jesus por três vezes (Mateus 26.75).
Muitas pessoas continuam sofrendo, desnecessariamente, quando, depois de perdoados por Deus, continuam hospedando em si a culpa e a vergonha. A culpa pode nos ajudar a sermos pessoas melhores, a vergonha nos faz duvidar de nós mesmos: “Com efeito, a tristeza, segundo Deus, produz arrependimento que leva à salvação e não volta atrás, ao passo que a tristeza segundo o mundo produz a morte” (2Coríntios 7.10).
Perdão é o remédio para a culpa. Enquanto não damos atenção à culpa, ela nos atormenta a consciência, mas se decidimos que realmente devemos tratá-la, o perdão é um excelente remédio. A culpa proveniente do amor é saudável, benéfica e nos motiva a reatar ligações rompidas com Deus, com nós mesmos e com o outro.
Há dois níveis de perdão: 1) Não pagar o mal com o mal. Isso significa perdoar quem nos magoa. 2) A reconciliação, mais profunda e mais difícil, envolve a participação de quem magoou e de quem foi magoado. O que magoou deve perceber o mal que causou e assumir a responsabilidade por ele; o magoado deve acreditar que o mal causado foi reconhecido e que há interesse em repará-lo. Quando essa mútua compreensão acontece, há a reconciliação e há a cura: “Perdoai, e vos será perdoado” (Lucas 6.37).
Não perdoar traz males à saúde do corpo e da alma. A raiva prolongada vira ressentimento e o ressentimento vira ódio. O que são ressentimentos? São lembranças rancorosas de dores passadas que não foram resolvidas. É um sentimento destrutivo capaz de causar males físicos, emocionais e espirituais. Um grande mestre escreveu: “Os ressentimentos são as irritações de ontem arranhando a membrana de nossa memória”. Há pessoas que estão convencidas de que têm todas as razões para sentir ressentimento, mas é bom lembrar: “O ressentimento leva o tolo à morte” (Jó 5.2). Pode-se construir uma prisão para si mesmo, cada mágoa será um tijolo nessa consturção. Rancores guardados acabam com a alegria da vida, tornam as pessoas amargas. Pessoas cheias de ressentimento podem ter pelo menos três tipos de comportamento: algumas vivem com eles, mas estão doentes (são pessoas que vivem de aparência); outras se fecham e se afastam (vivem isoladas – têm dificuldade de se abrir a novas amizades) ou ainda, aquelas que explodem (são agressivas e vivem de mau humor). É preciso deixar que o Senhor aplique graça às nossas mágoas, pois ela nos faz ver o perdão de Deus.
Por que será que até mesmo os cristãos têm tanta dificuldade em liberar o perdão? A Bíblia diz que quem demonstra pouco amor, também libera pouco perdão, como nos afirma o próprio Senhor Jesus: “aquele a quem pouco foi perdoado, mostra pouco amor” (Lc 7.47). Embora requeira muito esforço, o benefício do perdão recompensa, pois o verdadeiro amor cura mágoas.
Atualmente algumas pessoas têm tentado resolver seus problemas nos relacionamentos através de exercícios mentais, pensamento positivo, meditação, disciplinas, mas, se tentarmos resolver nossos problemas só racionalmente, nós conseguiremos chegar somente até certo ponto para viver melhor, mas é só através do amor perfeito de Deus por nós que podemos nos aperfeiçoar como seres humanos “A ciência incha, mas o amor edifica” (1Coríntios 8.1).
Para que haja perdão é preciso confissão sincera. Confissão não é interrogatório, tortura ou sessão de reclamação. Também não dizer a Deus o que ele não sabe, mesmo porque isso seria impossível, uma vez que o Senhor é conhecedor de todas as coisas, inclusive das nossas palavras, antes de as pronunciarmos.
A confissão é uma confiança radical na graça de Deus. Quando confessamos é como se estivéssemos dizendo: “o que eu fiz foi ruim, mas sua graça é maior do que eu, do que o meu erro, do que o meu pecado, por isso eu confesso”.
Se nosso entendimento sobre a graça for pequeno, limitado, nossa confissão também será pequena, limitada, cheia de desculpas e medo. A grande graça cria uma confissão sincera. Foi o que aconteceu com o filho pródigo (Lucas 15.18-19), com o cobrador de impostos (Lucas 18.13) e com o grande herói do Antigo Testamento, o rei Davi (Salmo 32.38 e Salmo 51).
Se enterrarmos nosso mau comportamento é só esperar pela dor que ficará alojada na nossa alma. Você está interessado em se ver livre desse mal? Solicite uma ressonanância magnética espiritual: “Sonda-me, ó Deus…”(Salmo 139).
O poder da confissão não está com quem a realiza, mas com o Deus que a ouve: “Se confessarmos nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1João 1.8-9). Às vezes, a confissão precisa ser também uns com os outros, assim como a Igreja Primitiva fazia (Atos 19.18-20) e assim como ensinou o apóstolo João: “Se perdoarem os pecados de alguém, estarão perdoados; se não os perdoarem, não estarão perdoados” (João 20.23).
Perdoar e Esquecer, Eis a Grande Questão
Esse é um assunto cheio de equívocos. Constantemente ouvimos a frase: “Perdoei, mas não esqueci”. Perdoar é ir contra os sentimentos que estão aflorados dentro de nós (raiva, mágoa, dor, tristeza). Esquecer é do cérebro. Mesmo que nos lembremos, perdoar significa que essa lembrança não afeta mais as nossas emoções e nosso relacionamento com quem nos ofendeu. Ela não envenena mais o coração (Hebreus 12.15).
O perdão não está em nós, está em Deus – temos de buscar. Só consegue perdoar quem experimentou e entendeu o perdão de Deus (Colossenses 2.13-14). Para que o perdão aconteça de fato, é necessário que o amor seja dado livremente, pois há poder curativo no amor: “O amor cobre multidão de pecados” (1Pedro 4.8).
Parte da cura consiste em para de se culpar pelo que aconteceu, depois de curar as feridas causadas por nossos atos, e sobretudo é preciso acordar todos os dias e optar por praticar o bem: “Façam todo o possível para viver em paz com todos” (Romanos 12.18).
Edna Lourenço
Membro da Assembleia de Deus em Mauá/SP

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